segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

008, Tarde.

Quando vem a noite e eu te ouço cantar, consigo imaginar que é só para mim que são ditas aquelas palavras. Cada verso percorre o meu ser e o eleva ao estágio onde o espírito dança no êxtase do sentir. O seu toque é fantasia passional e tola que me faz acordar cada manhã e o seu riso ainda é motivo para continuar em pé. Pensar no que é melhor para mim é pensar no calor da sua pele sob a ponta dos meus dedos e pensar no que é melhor para você é pensar no seu corpo entre os meus braços.

Mas sua face não está voltada para mim e talvez isso não mude nunca. Como os desejos de todos não podem se realizar ao mesmo tempo, nosso caminho sempre estará molhado por causa da chuva, lágrimas brincando sobre as peles, trêmulas. Acorrentando em chamas, o meu coração chora a distância do seu e minhas mãos seguem vazias sem terem suas costas em um abraço.

Não pode ser egoísmo desejar a própria felicidade, então não me senti sujo todas as vezes que gostei de ter que consolar você, só para te ter mais perto do peito, assim como não me sentirei mal por cuidar de você apenas porque sua presença me faz bem. E, quando penso que estou cansando de tudo isso, encontro aquela sua roupa que acabou ficando na minha casa e posso sentir você comigo, uma vez mais.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

007, Manhã.

Bom dia!
Estou escrevendo porque hoje acordei bem.
Então nada dos meus textos chatos por algum tempo.

Quero mais é ouvir Versailles, Moi dix Mois e D. A minha simpatia lírica pela violência estética, o sonho azul da loucura imortal daqueles que encontram seu paraíso interior, o legado da rosa.

Acho que essa postagem foi a que mais se pareceu com um diário propriamente dito.
É, pode ser divertido brincar de colocar as coisas no seu devido lugar.
Vamos tentar?

006, Noite.

Acordou atordoado, sentou-se na cama e, com a cabeça abaixada e entre as mãos, tentou lembrar o que havia sonhado. Não conseguiu. Lentamente pôs-se de pé e foi à cozinha, precisava de água. Acendeu a lâmpada, dirigiu-se à prateleira e tirou um copo do lugar quando percebeu aquelas letras em azul. Girando o copo pela mão, em busca do início da frase, conseguiu ler sem muita dificuldade a mensagem “sinto falta de você”. Repetiu em voz baixa não entendendo do que se tratava. A sede já não importava. Sentir falta de quem está ao lado é mais úmido que o oceano, mais seco que o deserto.

Algumas coisas simplesmente devem ser deixadas para que sigam seu próprio ritmo na dança cósmica do universo e sua dimensão amaterial.

domingo, 23 de setembro de 2007

005, Tarde.

Era um daqueles bairros de imigrantes japoneses, dia de comemoração, o cheiro da comida viajava longe e a música inspirava dança. A multidão passando na rua principal, entre as lojas e barracas, pessoas vestidas a caráter, crianças brincando com seus peixinhos recém capturados, casais observando os fogos de artifício. Ele estava ali, andando distraidamente tentando não lembrar daquilo que o perturbava tanto, mas era impossível. Tentar desesperadamente esquecer significava lembrar a cada instante.

Naquela esquina pôde sentir aquele agradável aroma de incenso e quis saber de onde vinha. Entrou por uma estreita rua escura e já não sabia dizer onde estava, cada vez mais próximo de onde quer que fosse chegar. A música era agora distante, assim como o som das vozes, dos risos. Andou até notar dois objetos luminosos no meio da escuridão. Eram duas lanternas chinesas na porta de um pequeno restaurante espremido entre as casas pequenas e escuras daquele local. Por entre as sombras pôde notar pessoas chegando de diversos lugares que não sabia identificar. Aproximou-se mais e foi então que notou, entre os clientes que chegavam, sua amiga Adriana. Ela também pareceu notá-lo, acenou e sorriu. Ele retribuiu, não a via desde o dia em que ela suicidara-se, quatro anos antes.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

004, Noite.

Querido Diário,

Hoje estou muito cansado para dizer qualquer coisa que não seja clichê. O dia foi bastante inspirador, porém não disponho de forças para escrever o que eu gostaria. E bem, não adianta contar o que eu imaginei, é perca de tempo, afinal é como sempre dizem as mães daqui de Palmas aos seus filhinhos que querem um McLanche Feliz: “querer não é poder”.

E refletindo sobre esta sábia máxima, me despeço e vou dormir.

Até a próxima!

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

003, Noite.

- Casar? Mas vai estragar a vida muito jovem!
- Digno de música sertaneja!

- Há quanto tempo não nos vemos?

- Aceita?
- Não, obrigado!

- Tudo bem, eu pego para você!

- Pinça, pra que?
- Descobri meu lado psicopata.

- A reunião é amanhã, as 10:30h.

- Vamos comprar chiclete!
- Ta, só vou pegar meu celular!

- Isso, madame, é Versailles!

terça-feira, 18 de setembro de 2007

002, Manhã.

É que no decorrer de nossas vidas, vamos aprendendo a domar nossas vontades e atitudes. Conseguimos, em diversos aspectos, controlar a fome, a sede, o choro, o riso, a raiva, os pensamentos, as expressões, as paixões, o desejo. Assim nos tornamos seres humanos superiores, mesmo isso não sendo sinônimo de felicidade. Aliás, na busca por esse tal comportamento superior, a própria felicidade deixa de ser objetivo e acaba por ser, também, domada. Já não sei onde entra o amor, próprio ou relativo.

Até porque tudo anda bastante confuso e eu já nem me reconheço mais. Dias inteiros sem conseguir me concentrar em nada a não ser nas lembranças dos nossos momentos juntos. E, se por um lado as memórias me deixam feliz, os fragmentos da realidade me deixam sem saber como lidar com a situação. A ambigüidade de seus atos não me permite ter uma idéia clara do que de fato há e, sempre que eu tenho alguma noção superficial, eu a faço desaparecer por não me agradar por completo.

Essa é uma atitude que não consegui domar, afinal não sou um ser humano superior, nem feliz. Ainda.